sábado, 30 de outubro de 2010


"Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, bares, charmes, possibilidades, livros, músicas, descobertas solitárias e momentos introspectivos andando ao Sol. E todo esse resto de coisas deixa aos poucos de ser resto, e passa a ser minha vida, e passa a enterrar você de grão em grão."









E devo dizer ainda que gostaria de vê-lo feliz, apesar de tudo.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010


Faz tempo que não falo com você, sobre você, pra você. Faz tempo, tanto tempo. Eu não consigo vir aqui sem chorar, sem lembrar de você sorrindo, sem lembrar o quanto isso ainda me dói e doerá. Tentei esquecer da existência desse lugar, deixei você adormecido dentro de mim, preferi assim sabe? Te deixar dormindo no sonho que eu construi, te fazendo respirar, figura viva, inerte, eu não consegui te deixar morrer. Eu jamais conseguiria. Dói tanto.
Tenho rezado por ti, acompanhado os teus passos pelo campos de trigo da minha memória. Não consigo. Não suporto esse cheiro de terra, essas flores que insistentemente eu trago, essa pedra que marca com uma cruz o dia que você se foi. Não suporto e por isso faz tanto tempo que eu não falo com você, sobre você, para você. Toda vez que eu fecho os olhos eu me lembro...
Lágrimas. Abri os olhos num suspiro fundo. Me debati um pouco e apareci naquele quarto branco que vez por outra eu sonho. Já te contei sobre esse sonho. Flores amarelas, cortina branca. Eu reconheci o rosto dela, eu me lembro, ela existe tanto na minha cabeça quanto fora dela. Contei que tinha sonhado que você tinha morrido, atingido no peito, último suspiro nos meus braços. Ela me encarou muda, segurou minha mão, respirou fundo.
Ela disse que você não existe. Pra eu tentar me lembrar. "Nada disso aconteceu." Ela não sabe o que está falando. Você existe sim, te deixei dormindo do lado direito da cama antes de ir trabalhar, você existe, eu sei, e deve estar preocupado agora, esses meus enjoos tem sido bastante frequentes, eu te digo que vou ficar bem, mas te escuto chorando no corredor a noite. Explico pra ela que você só foi embora pra dar comida para os gatos. E mesmo que você não volte isso não anula o fato de que você esteve aqui um dia, que fez parte da minha história, da minha vida. Você me deixou fazer parte da sua vida também, mostro as alianças, mas ela fingi que não sabe, todos eles fingem, e ficam repetindo que você não existe, que se eu continuar assim eu nunca vou sair daqui.
Me trazem flores, maçãs. Mas eu odeio flores, odeio maçãs e odeio cada um deles. Eles ficam me pedindo pra te esquecer, dizendo que eu tenho que ficar boa, que você não existe, nem qualquer gato, ou qualquer coisa da minha vida ao seu lado, que já faz meses que eu estou assim. E eu nunca sei porque eles dizem isso, não quero esquecer nada, estou bem, não sei o que eles querem dizer com meses, meses do que? Tenho trabalhado, ido ao cinema, tenho cuidado de você, só me senti um pouco mal hoje. Vez por outra tenho sonhos estranhos como esse que agora não estou conseguindo acordar. Dor de cabeça. Não é real. Eu sei que isso é um pesadelo: as flores amarelas, eles repetindo que você não existe, o tumor, o outro sonho. E eu quero acordar. Preciso te contar que eu ainda me lembro da nossa vida, que ainda te amo, que estou deitada ao seu lado tentando segurar a sua mão, mas eu não consigo acordar. Vejo flores naquele campo, elas me enjoam, você não está morto, e é claro que você existe, eles me ferem com essas mentiras, eu preciso acordar e te contar o quanto esse sonho é ruim, o quanto eu queria que você me acordasse exatamente agora.
Quero voltar pra casa, pros nossos gatos, pra nossa vida. Aquela lâmina. Essa dor não é real. Esse ferimento não é real. Mas você é real, meu amor. Me espere. Quando acordar te faço café e iremos ao parque. Estou quase. Vermelho intenso. Eles me seguram e perguntam o que eu fiz. Eu sorrio, eles não entendem. Nesses sonhos a gente só acorda quando está prestes a morrer...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

For the good times


Don't look so sad, I know it's over
But life goes on and this world keeps on turning
Let's just be glad we had this time to spend together
There's no need to watch the bridges that we're burning

Lay your head on my pillow
Hold your warm and tender body close to mine
Hear the whisper of the raindrops
blowing soft against my window
And make believe you love me one more time
For the good times.

I'll get along, and I am sure you'll find another
And I'll be here if you should find you ever need me
Don't say a word about tomorrow or forever
There'll be time enough for sadness when you leave me.

Just make believe one more time
For the good times...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


"E naquela manhã, era tarde demais. Enumerou: tarde demais para a alegria, tarde demais para o amor, para a saúde, para a própria vida."







"Secamente, definitivamente, eu não fazia parte daquilo.
Por razões que não sei explicar,
e nem precisariam tentar ser explicadas
porque eram e, pior, continuam sendo
completamente indiscutíveis.
Eu não fazia parte, e pronto."

quarta-feira, 20 de outubro de 2010


"Resta esta história que conto, você ainda está me ouvindo? Anotações soltas sobre a mesa, cinzeiros cheios, copos vazios e este guardanapo de papel onde anotei frases aparentemente sábias sobre o amor e Deus, com uma frase que tenho medo de decifrar e talvez, afinal, diga apenas qualquer coisa simples feito: nada disso existe."












"Sem pensar em mais nada, fecho os olhos para esquecer. Dorme, menina, repito no escuro, o sono também salva. Ou adia."

domingo, 17 de outubro de 2010


"Cada vez mais ela não sabia explicar. Transfomara-se em simplicidade orgânica. E arrumara um jeito de achar nas coisas simples e honestas a graça de um pecado. Gostava de sentir o tempo passar. Embora não tivesse relógio, ou por isso mesmo, gozava o grande tempo. Era supersônica de vida. Ninguém percebia que ela ultrapassava com sua existência a barreira do som. Para as pessoas outras ela não existia. A sua única vantagem sobre os outros era saber engolir pílulas sem água, assim a seco."








"Como é chato lidar com fatos, o cotidiano me aniquila, estou com preguiça de escrever esta história que no fundo é um desabafo apenas..."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010


"Você sempre fica meio tonto quando pensa que não quer ficar, e que também não quer — ou não pode — voltar."










"Há tantas sextas-feiras, tantos luminosos de neon, tantos rapazes solitários e gostosos perdidos nesta cidade suja."



"Esmagou o cigarro, baixou a cabeça como quem vai chorar. Mas não choraria mais uma gota sequer."

quinta-feira, 7 de outubro de 2010


"Opto pelo olhar estetizante, com epígrafe de mulher moderna desconhecida (Não estou conseguindo explicar a minha ternura, entende?) Não sou rato de biblioteca, não entendo quase aquele museu da praça, não tenho embalo de produção, não nasci para cigana, e também tenho o chamado olho com pecados. Nem aqui? Recito WW pra você: "Amor, isto não é um livro, sou eu, sou eu que você segura e sou eu que te seguro (é de noite? estivemos juntos e sozinhos?), caio das páginas nos teus braços, teus dedos me entorpecem, teu hálito, teu pulso, mergulho dos pés à cabeça, delícia, e chega.
Chega de saudade, segredo, impromptu, chega de presente deslizando, chega de passado em videotape impossivelmente veloz, repeat, repeat. Toma este beijo só pra você e não me esquece mais. Trabalhei o dia inteiro e agora me retiro, agora repouso minhas cartas e traduções de muitas origens, me espera uma esfera mais real que a sonhada, mais direta, dardos e raios à minha volta. Adeus.
Lembra as minhas palavras uma a uma. Eu poderei voltar. Te amo, e parto incorpóreo, triunfante, morto."





"Hoje sou eu que estou te livrando da verdade."





My love's a laboratory
I set all my pets free...




Ouvindo: Specialist - Interpol

terça-feira, 5 de outubro de 2010


"Sei da tua forma de chegar à morte, sei da minha forma de chegar à vida e sei que não te tocarei no campo de trigo atrás da tua face e sei que não tocarás na ponta de faca atrás da minha face e sei do nosso mútuo assassinato e sei de nossa insaciável fome de carne humana."








"Queria poder continuar a vê-lo, mas sem precisar tão violentamente dele."






Ouvindo: Handbags and gladrags - Stereophonics

sábado, 2 de outubro de 2010


"Me ajuda que hoje eu tenho certeza absoluta
que já fui Pessoa ou Virgínia Woolf em outras vidas,
e filósofo em tupi-guarani,
enganado pelos búzios,
pelas cartas, pelos astros, pelas fadas.
Me puxa para fora deste túnel,
me mostra o caminho pra baixo da quaresmeira em flor
que eu quero encontrar em seu tronco o lótus de mil pétalas
do topo da minha cabeça tonta para sair de mim
e respirar aliviado
e por um instante não ser mais eu,
que hoje não me suporto
nem me perdôo de ser como sou:
sem solução."





Ouvindo: For the good times - Al Green

sexta-feira, 1 de outubro de 2010


"Sabe nada: você roda na roda também, quer uma prova? Todo esse pessoal de preto e cabelo arrepiadinho sorri pra você porque você é igual a eles. Se pintar uma festa, te dão um toque, mesmo sem te conhecer. Isso é rodar na roda, meu bem. Pra mim, não. Nenhum sorriso. Cumplicidade zero. Eu não sou igual a eles, eles sabem disso."












"E mais uma vez surpeendi os vizinhos olhando aqui para dentro, as luzes apagadas, esperando descobrir qualquer coisa na minha vida que eles não compreendem."