quinta-feira, 29 de abril de 2010


"Enquanto isso, vá me estendendo a mão, que eu preciso dela. Se você não diz nada, é porque há muita coisa dentro de você. Eu gostaria que você se confiasse um pouquinho mais a mim; É isso que eu chamo de jogo unilateral. Não pense que eu ando atrás só de "belas coisas simples". Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância , desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem. Porque eu não sou assim. Se não quiser dizer nada, também não faz mal, basta me estender a mão. (...)"











"No momento eu só tenho um grande problema - é saudade de você - o resto é bobagem."

Sweet freedom whispered in my ear

You're a butterfly,

And butterflies are free to fly,

Fly away, high away

bye bye...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Beatriz


Conheci Beatriz ainda jovem, uma semana depois que o mundo acabou.
Caos estabelecido. Conveniência, quartos separados, convivência por aparência. Aparentemente infeliz.
E então ela apareceu. Flor entre os destroços, forte: pétalas à prova de fogo. Beatriz tinha pouco menos de 20 anos e os seus olhos eram talvez tão velhos quanto os meus. Menina. Mulher. Meu amor.
Eu, a voz rouca, parada, remota, já não tão jovem assim. Mulher feita, com aliança, carnê de prestações e toda a frustração de uma vida que não chegou a acontecer.
- Fogo, por favor. Aproximei a chama de seu rosto e vi em seus olhos os meus olhos refletidos. Beatriz tinha alguma coisa de santa, alguma coisa de puta, Beatriz tinha alguma coisa de mim. Ela me tinha. E ela sabia.
- Vem comigo. A música alta foi ficando cada vez mais distante, as vozes, o cheiro de urina e bebida impregnado no chão monocromático. Beatriz me levou pela mão. Não consegui olhá-la nos olhos, ela sorriu, andamos dois quarteirões até que o luminoso nos apontou a entrada. Não fiz qualquer pergunta, eu estava segura, eu estava com Beatriz. Sussurrei qualquer coisa como essa é a minha primeira vez, eu não deveria estar aqui. Beatriz sorriu e me confortou dizendo que também não tinha noção do que estava fazendo que talvez tivesse enlouquecido de vez como sua mãe sempre lhe dizia. Não importava. Eu a tinha achado. Nada mais importava. Não hoje. Não agora.
Esqueci seu sexo, seu nome, o fim do mundo.
Beatriz me amou como ninguém nunca ousara amar.
"Você comigo onde quer que eu vá."
Dormimos. Ninho familiar.
Sonhei com um colar de flores, borboletas, Beatriz sorria, eu suspirava. Beatriz. Finalmente.
Acordei assustada, coração acelerado, Beatriz não estava, tudo estava diferente, a música alta perturbava os meus sentidos, eu estava num sofá de couro preto, infecto, nojento. Corri para encontrar Beatriz. Em vão.
Foi um sonho.
Um sonho real demais.
Voltei para casa, para minha vida miserável, um lar desfeito, uma mentira. Ele dormia no sofá, no chão uma garrafa de conhaque vazia. Patético, como sempre. Caminhei lentamente para o banheiro. Me despi em frente ao espelho. As lágrimas escorriam enquanto eu me olhava fixamente.
De repente percebi, acima do meu seio, escrito de batom vermelho: Beatriz.
Nas costas as marcas dos lábios, das unhas, do amor dela.
Uma noite.
O amor dos meus sonhos. O amor da minha vida.
"Você comigo onde quer que eu vá."

E eu te levarei.





Ouvindo: Someone saved my life tonight - Elton John

segunda-feira, 26 de abril de 2010


"Trata-se de uma decepção diferente: não penso obsessivamente, não tenho vontade nenhuma de ligar nem de escrever cartas, não tenho ódio nem vontade de chorar. Em compensação também não tenho vontade de mais nada."

sexta-feira, 23 de abril de 2010


"Eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim."











Ouvindo: Fluorescent Adolescent - Arctic Monkeys

quinta-feira, 22 de abril de 2010


Christ, you know it ain't easy
you know how hard it can be
the way things are going
they're going to crucify me...

terça-feira, 20 de abril de 2010


Esse meu jeito muitas vezes inábel, muitas vezes corrosivo, muitas vezes inominável, tantas vezes mal interpretado... eu já destrui coisas demais.
Hoje eu declaro que é tempo de reconstruir.
Existem milhões de molduras, milhões de jeitos de se ver o mundo, milhões de jeitos de se ignorar o que se vê. Eu já estive de olhos fechados. Um dia os abri, mas durante muito tempo escolhi não compreender o que eu via, compreender é perigoso e pode machucar. E eu me machuquei.
Doeu por um tempo, mas os olhos se acostumam à claridade das coisas, um dia você começa a ver sem receio, começa a entender. Com o tempo você consegue entender mais que figuras, você começa a entender os significados.
Hoje eu consigo.
Espero que algum dia você consiga ver também.
Sinto muito por te fazer sofrer, eu preferia que não fosse assim, mas atualmente não tenho muita escolha. Espero que algum dia você compreenda que eu realmente acredito no que estou fazendo, nos motivos e nos própositos de tudo isso. Espero que algum dia você entenda também o quanto eu acredito em você e o quanto eu dei o meu melhor nesses últimos anos.
Hoje eu compreendo os seus motivos e aceito as suas escolhas.
"O amor não prende, o amor liberta."
E hoje você está livre.




Ouvindo: Ticket to ride - The Beatles

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Em casa



E de repente eu lembrei o que me movia. Me vi ali sentada com o meu passado sobre a mesa, tomando drinks, sorrindo, fumando. De repente eu me lembrei o que me mantinha ali, o que me mantinha.
Era amor, cara, eu amava aquelas pessoas, aquelas esquinas, aquelas situações, aquelas dúvidas. A gente fica por amor. E acaba indo embora por curiosidade, só pra ver como é a vida fora do ninho. A gente vai embora pra sofrer. Aves jovens ensaiando vôos tímidos, a gente cai pra caramba, se arrebenta, mas enfrenta. Esse lance de amor acaba deixando a gente forte. A gente se refaz. Sempre.
A gente volta por amor também. Com saudades e cicatrizes, para tomar drinks, fumar e lembrar nostálgicos dos nossos tão distantes 16 anos. Pés cansados, rosto marcado, o mesmo vinil tocando. São tantas histórias, tanta coisa boa. Uma noite parece pouco. Não vamos embora, o mundo pode esperar.
A gente canta em volume máximo, se abraça, cai embreagado, fuma, grita, ri de tudo, de todos, o dia amanhace e a gente nem percebe. Somos transportados pro passado, é como antigamente, solos de saxofone, a gente não tinha hora, não tinha preocupação, não tinha emprego, não tinha medo, de nada. A gente vagava por ai, porras loucas, desvairados, tomando conhaque, lendo poesia, tocando canções sobre liberdade. Invadíamos as praças, as ruas, os corações. A gente tinha tanto ideal, tanta juventude, o tempo nos consumiu. Preto. Sempre de luto pelo mundo.
Desenhamos nosso paraíso nos muros da cidade, construímos nossa fotaleza no jardim, a gente era feliz, cada um do seu jeito. Alguns pintavam arcos íris nas portas, outros pintavam cruzes, alguns escreviam versos sobre vida, outros sobre morte. Imaginávamos palácios em barracos e transformávamos vidro em diamante.
A gente transformava as coisas com amor, por amor. De repente eu me lembrei disso. Me lembrei que é isso o que eu sou. Que é isso o que somos. Que é isso que escolhemos ser.
Seguimos.
Pés descalços, somos os mesmos. Almas nuas, somos os mesmos. Corações valentes, somos os mesmos.
O tempo passa.
Somos os mesmos.
E voltamos para casa.

sexta-feira, 16 de abril de 2010


"Ai, que necessidade que tinha de doer em alguém, como se já estivesse exausta de tanto ser grande e boa. Por um instante conteve um movimento, toda concentrada no desejo de ser pequena e má e vil e mesquinha."










É isso que você quer?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

"Porque sabemos demais do que nem gostaríamos, talvez.
Somos seres famintos, rangemos os dentes por pratos de comida e um pouco de prazer.
A gente se define como compulsivos, mas poderíamos ser maníacos compulsivos, psicóticos compulsivos, neuróticos compulsivos, ansiosos compulsivos e mais uns outros mil tipos.
Porque não faz muita diferença, o controle nos falta."








Baby, did you forget to take your meds?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

J.


Medo. Foi a primeira coisa que eu senti quando você me despiu emocionalmente em menos de cinco segundos de conversa. Foi a primeira vez que botei os olhos em alguém e quis me esconder, foi a primeira vez que eu botei os olhos em alguém e me senti frágil como uma criança assustada. Colo. Sem entender corri para o seu.
Bebemos, fumamos, conversamos como velhos conhecidos, a noite foi longa, longa o suficiente para me fazer esquecer como era a minha vida antes de você aparecer na minha porta e me tirar da minha posição de defesa. Demorei para entender tudo aquilo. Só sabia que não podia deixar você ir embora. E não deixei. Te levei para a minha casa, para o meu mundo, dois dias, frio, cobertas, compras, conversa, coca zero, chocolate, almoço especial. Eu me lembro como se fosse ontem daquela noite e desde então agradeço todos os dias pela noite que me trouxe você.
Você me deu apoio, suporte, você acreditou em mim quando nem eu acreditava. Você conheceu meu coração quando eu ainda tinha dúvidas do que se passava nele. Você é um dos meus pilares e eu te agradeço por você deixar eu ser um dos seus, por compartilhar tanta coisa comigo.


Minha guia, minha mestre, minha amiga, meu yang. Eu te amo.

terça-feira, 13 de abril de 2010


"O que eu quero dizer é justamente o que eu estou dizendo. Não estou com pena de mim. Tá tudo bem. Tenho tomado banho, cortado as unhas, escovado os dentes, bebido leite. Meu coração continua batendo - taquicárdico, como sempre. Dá licença, Bob Dylan: It's all rigth man, I'm just bleeding. Tá limpo. Sem ironia. Sem engano. Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, não fechamos nada, continuamos vivos."









Ouvindo: Além do que se vê - Los hermanos

sábado, 10 de abril de 2010

Sobre ela



"Você deveria se orgulhar. Sim, deveria. Ela é brilhante. Chegue mais perto, isso, mais perto e olhe bem dentro dos olhos dela. Ela gosta de você, mais que gostar, ela te ama. Você sente a docilidade vindo da boca dela? Sim, todas as noites. Ela é teimosa. O endereço dela eu não tenho, ela não tem pouso, ela não tem escalas. Por que você fechou tanto o círculo? Você sabia que ela iria escapar por debaixo das suas pernas, ela mesma te avisou. A culpa não é sua, eu sei disso. Ela é infantil, ingênua, não era sobre isso que falava com seus amigos sobre ela? Mas ela, de repente, vira mulher. É, eu sei o quanto é complicado. Ela tomou alguns porres tentando esquecer o vazio que tinha por dentro, mas ela nem com porres é boa, passou mal, MUITO MAL. É, ela é terrível. Se eu fosse você, não a confortaria assim. Não, claro, ela te merece, mas você não merece o mal que ela tem a oferecer. Que mal? Não, ela não é assassina ou algo do tipo, tem pânico de sangue. É apenas algum tipo de mal, desses passivos e passionais, mas acho que você não precisa experimentar. Não precisa aceitá-la, como ela fez com você, apenas deixe. É. Ela sabe que você a ama. Ah sabe sim! Por isso que te digo, ela te ama. Não tem ninguém, eu juro. Ela não está tendo nenhum caso, nada. Ela é cuzona, você sabe. Ela tem reclamado de insônia, das pesadas, tem passado mais noites acordadas que dias. Acho que é a falta de sossego. Esses dias, ela chorou enquanto falava com você, eu pude ver as lágrimas e ela tremia, não quer te fazer sofrer. Eu sei que você já está sofrendo, mas ela também está. Já a viu comendo compulsivamente? Pois bem, ela está o triplo daquilo. Não faz sentido pra você, eu sei. Eu sei disso tudo. Mas tenho visto no rosto dela, que pra ela faz menos sentido ainda. Desculpa a frieza, mas ela não sente mais nada. Nada. Parece oca, vazia, sem sentido, sem luz, sem vida e você é uma estrelinha, tem que brilhar e ajudar muita gente por ai, ela é apenas um poço de nada. Seja feliz."




Dor púpura.






Ouvindo: Strawberry fields forever - The beatles

sexta-feira, 9 de abril de 2010


You can keep your black tongue.










Ouvindo: Black tongue - Yeah Yeah Yeahs

quinta-feira, 8 de abril de 2010


"Eu posso mudar o tipo do amor, mas não posso acabar com ele. Vamos ficar bem, vai dar certo assim."





"Eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende?"



Se eu te dissesse, talvez tivesse ajudado a doer menos em você.

terça-feira, 6 de abril de 2010


"Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços."









Ouvindo: Wild Horses - Rolling stones

sexta-feira, 2 de abril de 2010


"Tão desamparada e descalça, quase nua, sem maquilagem nem anjo de guarda, dentro de uma camisola velha de pelúcia, às vésperas da Sexta-Feira Santa, sozinha no apartamento e no planeta Terra."










Ouvindo: Hang on to your IQ - Placebo