sábado, 30 de maio de 2009

O presente

Parecia um dia comum, mas hoje ela o veria, estava feliz, poder abraçá-lo numa data tão importante, era longe, mas nunca longe demais para ela, nunca, então foi. Portava um presente tímido na bolsa, embrulhado em papel barato, muito significado embrulhado em papel barato, mas era melhor assim, era melhor que ele não percebesse o tamanho de tal feito, ela ainda tinha medo, muito medo. Chegou meio tímida, ficou parada, meio remota, esperando que ele a atendesse, seu coração batia forte, estranho, já o conhecia a tanto tempo, sabia exatamente a expressão que ele faria ao abrir o portão, sabia que ele a deixaria entrar na frente e caminharia atrás dela, falando alguma coisa com o gato que insistia em ficar no caminho, sabia, mas sentia arrepios no estômago, todas as vezes, hoje mais, por algum motivo que ela ainda desconhecia. E como previsto ele abriu o portão, a deixou entrar, resmungou com o gato e adentrou a casa. Sentiu uma enorme vontade de abraçá-lo, o fez, brevemente, mas o fez, havia medo, muito medo. Se sentaram e conversaram, como sempre, mas hoje era diferente, talvez pelo aniversário, talvez pelos novos sentimentos dela, talvez por nada, nada demais. Duas horas se passaram, rapidamente, as horas voavam quando ela estava em companhia dele, não sabia se ele sentia o mesmo, mas isso não ousava perguntar a si mesma. Desajeitadamente colocou o embrulho no colo dele e olhou para a janela, ele sorriu, ela não chegou a ver, ele lhe disse algo brincando com sua timidez, ela sorriu também e pediu que abrisse o presente. O pacote foi aberto, ela o olhou fundo, se encantando com a felicidade dele ao abrí-lo, ele agradeceu e quis abraçá-la, ela deixou, mas não muito, pois existia medo. Era hora de ir, ela precisava ir, ele também, se levantaram e caminharam em direção a porta, ele a deixou sair primeiro, como sempre. Fariam parte do caminho juntos, ela estaria com ele por mais alguns minutos, sentiu um aperto no peito, segurou a mão dele, forte, ele não percebeu tal desespero, naturalmente continuou a falar, qualquer coisa que ela não chegou a prestar atenção. Chegaram ao destino, o destino em que eles se separariam, ambos tinham que continuar, mas não juntos, ela iria para casa e quanto a ele, bem, ela não sabia. Ela o abraçou, repentinamente ele lhe beijou os lábios e disse algo sobre vê-la em um outro momento, ela acenou a cabeça concordando e o observou até que ele sumisse na multidão. De repente, em sua cabeça soaram palavras que não eram suas, dizendo que aquela seria a última vez que ela ficaria feliz em vê-lo.
E seria.

Um comentário:

The Sole Survivor disse...

Gatos sempre atrapalhando o caminho...



É estrano quando bate aquela certeza as coisas, né? Como se soprassem em nossos ouvidos alguma verdade bem dolorida de ser ouvida...