segunda-feira, 8 de junho de 2009

Unsent


Querido R., infelizmente não mais tão querido assim, hoje acordei sentindo que deveria me despedir, não de presença física, mas de coração, sabe? Sei que o verei em breve, mas não me permitirei ficar com qualquer um desses sentimentos que você tanto machucou e negligenciou. Deixo todas as minhas considerações aqui, aprisionada numa carta que você nunca chegará a ler.
Te deixo ir e deixo que isso me doa, inteiramente, afinal, a gente precisa velar nossos mortos antes de enterrá-los, fica mais fácil quando se aceita esse processo natural de perda. Sabe, as coisas foram muito unilaterais entre a gente e sinceramente você me decepcionou muito e muito, nunca cheguei a saber sobre o que nós éramos, sobre o que eu era pra você, se é que um dia fomos mais que: algo que aconteceu. Nada entre a gente foi planejado, talvez você não quisesse tal sentimento, diferente de mim, que cravou os dentes nessa possibilidade. Sabe, jamais soube o porquê você voltou, afinal, passamos por tantos problemas, brigas, foi dolorido, passamos cinco meses nos curando e tentando reconstruir aquele nosso antigo amor incondicional, foi difícil, mas insistimos, então me diz: você voltou para isso? Talvez você também não saiba, de qualquer forma, saber os seus motivos não anulariam esse gosto podre de fracasso que sinto em minha boca, dessa minha falha sem tamanho, eu acreditei em você, em todas as suas pseudo mudanças, me culpo por essa projeção que construí com as suas promessas. Talvez eu nunca o tenha amado de verdade, não você, me entende? Só esse holograma espelhado que eu confeccionei na minha cabeça.
Hoje estou mais consciente, vítima daquela clareza mental que assola a gente depois do fim, comecei a aceitar, simplesmente acabou, sem aviso prévio, sem maiores explicações, como quando se termina um cigarro, julgo o nosso relacionamento como algo similar a isso: mais um cigarro apagado no cinzeiro, vivenciamos cada trago, porém nada pode ser aproveitado de um cigarro já consumido, chega uma hora que é necessário acender um novo. Você já o fez, da forma mais difícil ao meu ver, mas o fez. Das minhas irrealizações só levo o aprendizado e algumas poucas boas lembranças, afinal, o cinzeiro está cheio e é preciso limpá-lo para que caibam outros cigarros não é? Para que você continue tranquilamente nesse seu ciclo vicioso, no fundo é assim que você quer, é assim que você escolheu: consumir pessoas como se consomem cigarros. Muito bem. Espero que algum dia você encontre o que realmente procura, ou que ache alguma coisa que valha a pena se entregar para mudar essas suas noções distorcidas de amor. Acima de tudo, te desejo sorte, porque sinceramente, eu não posso fazer mais nada por ti.


Sem mais,
Fernanda.
Ouvindo: Narcoleptic - Placebo

Um comentário:

Cáh Villa. disse...

Isso me lembra muito eu...





Depois de tanto tempo, ainda sentimos a mesma coisa!