Só pra você achar que me conhece

Nunca fui bom exemplo pra ninguém, não que eu seja lá de todo ruim, só em teoria, acho, não sei ao certo, na verdade sou muito individualista pra me preocupar com isso. Gosto de coisas simples e algumas bem bizarras, mas acho que é assim com todo mundo, nem me martirizo pela parte bizarra, não mais pelo menos. Gosto de sexo, mesmo sabe? De fazer, de falar, de pensar, gasto em torno de 50% do meu tempo pensando nisso. Gosto de conversar, mas só com gente que eu realmente gosto, de escrever, de fotografar, de botar fogo nas coisas, isso mesmo, de botar fogo e sem nenhum motivo aparente, gosto de não ter o que fazer e ao mesmo tempo de não ter tempo nem pra respirar, gosto de falar de putaria, de poesia, de vingança, de nojeira e de comida. Não acredito em amor romântico, em sexo sim, mas amor mesmo só se for desinteressado, coisa fraternal ou materna, saca? Sou obcecada pela minha mãe, sei que herdei o gene ruim do meu pai, não tenho laços familiares fortes, só com esses dois mesmo. 90% das pessoas que me conhecem já viram a minha bunda, mas isso nem tem conotação sexual, por incrível que pareça. Sou preguiçosa ao extremo, então não me faça andar atoa. Levo muito ao pé da letra essa coisa de irmandade. Me apaixono todos os dias, por qualquer coisa, por hobbie mesmo, hoje em dia eu namoro um vestido que reside na alameda santos e um rapaz que trabalha no prédio ao lado, acho que ele nem sabe que eu existo, não que isso faça diferença. Tenho facilidade pra aprender, didaticamente falando, claro, porque emocionalmente sou uma topeira. Não gosto de livro de historinha, acho muito regrado essa coisa de começo, meio e fim, gosto de ler coisas mais aleatórias como contos, porque você pode começar a ler de qualquer lugar do livro que não faz diferença, tenho mania de ler jornal de trás pra frente, sei lá porquê. Conheço milhões de bandas mas escuto sempre as mesmas músicas, acho que os meus vizinhos me odeiam por isso, alguns amigos meus também. Meus amigos ficaram assustados na última vez que eu surtei, acho que com a possibilidade de eu matar alguém... Mas nem vale a pena, eu ia ficar com a ficha suja e não poderia prestar concurso público, vai que um dia eu cismo de prestar concurso público, nunca se sabe, fora que nem é fácil sumir com um corpo, mesmo picado ele pesa e eu não tenho carro. Tenho medo de borboleta e de peixe, coisa antiga. Adoro plástico bolha, coisa antiga também. Não suporto gente efusiva, nem pseudo intelectual, não faço questão de ser simpática com todo mundo nem de mostrar ao mundo minha inteligência, acho isso digno de pena, quase um pedido desesperado por atenção, feio. Faz quase um ano que eu moro sozinha e ainda não me sinto adulta, isso que minha mãe nem me dá dinheiro. Cozinho bem, mas janto qualquer coisa que eu achar no armário. No trabalho duvidam da minha sanidade, mas me aceitam bem até, dizem que eu trabalho direitinho, minha chefe disse que era parecida comigo com a minha idade, mas sei lá né, ela tem 50 anos, namora à dez e enrola o cara até hoje. Gente que trabalha com tecnologia costuma ser esquisita mesmo, vejo pelo meu gerente que gosta de trabalhar ouvindo música mexicana no último volume, a mulher dele liga aqui de vez em quando perguntando se ele dormiu no escritório, até já me fez procurar a moto dele no estacionamento. Tenho fumado demais, mas decidi que vou parar quando tiver 25 anos. Até que tenho bebido pouco, nunca mais acordei na sarjeta, isso é um progresso. Tenho feito coisas que não me orgulho, mas vou parar, juro, por ela. Preciso usar óculos, mas não gosto do fato de ficar parecendo a Chiquinha. Odeio amarelo e lantejoulas, principalmente se forem lantejoulas amarelas, a única lantejoula suportável pra mim é a preta. Não me dê nada verde água, essa cor só fica boa em lápis de cor. Não gosto de pensar no futuro, então não faço planos a longo prazo, mas não quer dizer que eu só me preocupe com o miojo nosso de cada dia, tenho sonhos também, um pouco mais excêntricos que os dos outros, mas ainda assim sonhos, mas essa coisa de idealização futura eu guardo pra mim. Gosto de abraço, de chocolate e de churrasco. Já disse que não gosto de peixe, né? Não pretendo ser loira, usar lente, nem colocar silicone no futuro. Acho que a Disney é responsável por grande parte da nossa frustração sentimental, por causa daquelas baboseiras de felizes para sempre e tal, então nem curto contos de fadas. Não espero que ninguém surja num cavalo e conserte a minha vida, aliás, tenho medo de cavalo também, eles são muito grandes, não gosto. Não faço a mínima questão de viver como num capítulo de malhação. Sou aquilo que chamam de "gente de verdade", ou, só mais um desses surtados que terminam suas vidas num manicômio. Mas isso com o tempo a gente descobre, ou não, no caso de eu morrer antes.