quarta-feira, 18 de novembro de 2009


Meia noite, doze badaladas, doze cortes, doze mortes: internas, externas, tanto faz - não me lembro de nada. - Rua deserta, fuga, rápido, rápido, adiante, vento contra o rosto, ofegante, é quase possível ouvir o sangue pulsante correndo em suas veias, seus batimentos cardíacos pareciam tambores em plena seita pagã - ela gostava disso. - Sudorese , rápido, mais rápido, pupilas dilatadas, um sorriso obscuro escapou de seus lábios, seu destino foi selado instantes atrás, ela não se importava, se sentia viva assim: sórdida, profana, sagrada.
Adentrou a casa pela última vez, seus únicos afetos se foram- alívio - guardou todas as fotografias e bonecas de porcelana num baú mofado - lembranças ridículas - fez questão de manter a mobília intacta. Separou poucas peças de roupa, respirou fundo, acendeu a última vela que havia guardado para o seu anjo da guarda - ele nunca esteve aqui - e a deixou cair sobre o baú já embebido em álcool.
Aqui dentro a luz forte apagava as marcas de um passado sombrio, lá fora as luzes brandas iluminavam uma cidade que nunca dormia. Partiria agora.
Rodou a chave na porta, olhou pra trás ainda ofegante, ainda excitada, ela não poderia mais voltar. Ela estava livre agora.

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