quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Ser


Eu moro num país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza. Eu sou mistura, pele branca, sangue crioulo, olhos de amêndoa, cabelo enrolado.
Eu acredito em mandinga, anjo da guarda, amuleto da sorte, amor incondicional. Acredito em Deus, acredito na vida.
Não guardo lembranças em caixas de sapatos, mas tenho um coração muito ocupado por coisas que guardei. Sou câncer com ascendente em libra, a astrologia explica a minha emotividade, a minha falta de noção.
Larguei uma vida por egoísmo, voltei por egoísmo, hoje consigo enxergar melhor as minhas falhas.
Gosto de música, literatura, cinema, teatro, arte. Gosto de bar, da embreaguez, da noite. Gosto da liberdade de ser e estar.
Não sou a pessoa mais inteligente que conheço, mas assumi a capacidade de raciocinar e distinguir, não tenho medo dos maravilhosos dez por cento que estão ao meu dispor.
Não quero o melhor emprego do mundo, só quero o meu sustento com dignidade. Eu larguei a faculdade, escolhi viver minha vida longe da burocracia de arquivos e políticas empregatícias. Eu escolhi me dar uma segunda chance, escolhi ser feliz.
Não quero ser loira, não quero ter olhos azuis, não quero silicone e nem formas esculturais. Não quero ser o que eu não nasci pra ser, não sigo padrões ditatoriais da moda, da sociedade, da futilidade. A individualidade e a valorização das diferenças são mais belas ao meu ver.
Sou a única herdeira, mas ganhei irmãos no ritmo em que a vida foi acontecendo, pequenos presentes de Deus.
Já fui fera e já fui ferida, já fui ácida e doce doce. Já me enganei muito, já fui muito enganada, tentei ao máximo não enganar ninguém.
Já amei muito, vezes certo, vezes errado, vezes de verdade, vezes de faz de conta. Já fui muito amada, vezes certo, vezes errado, vezes de verdade, vezes de faz de conta.
Já menti pra deixar alguém ir, já menti pra tentar fazer alguém ficar, já fui sincera para conseguir ir embora em paz. Já fui Vênus, já fui Júpiter. Já fui ódio, mas fui muito mais amor.
Já fui promíscua para curar feridas, já fui fiel pra não trair as minhas crenças. Já perdoei erros injustificáveis, já fui condenada quando inocente, já condenei sem ver as provas, já deixei de lado o que perdeu o sentido.
Já andei descalça na rua, já tomei café na padaria de pijama, já tomei chuva pra me sentir viva. Já me embebedei numa quinta feira nublada porque algo em mim doía, já bebi na praia de madrugada para acompanhar a dor de outro alguém. Já acordei sem saber o que tinha acontecido, já acordei desejando que a noite anterior não tivesse acontecido.
Já viajei pra fugir, já viajei pra me achar, já voltei para lembrar, já fugi para esquecer. Já pensei ter feito tudo, já descobri que ainda não sei nada.
Já cai, já levantei, já agredeci a mim mesma pelo que me tornei e ao mundo pelo que ele não me tornou, por não ter me embrutecido demais.
Sou o que eu vivi, sou o que eu fiz, sou os erros que cometi, sou a ânsia de acertar. Sou. No sentido mais puro e definido da palavra. Sou, como quem é, a cada passo trôpego.
Sou sarcástica e emotiva, consumista e minimalista, capitalista e socialista, individualista e altruísta, sou cinza tristeza e felicidade azul da cor do céu.
Sou o que convir, sou o que vier, sou o que eu quiser, sou o que Deus quiser.



Ouvindo: I'm going slightly - Queen

3 comentários:

Raposo Tavares disse...

Espero que esteja funcionando! Às vezes o mundo parece tão pateta, outras tão obscuro. De repente nos damos conta da complexidade das coisas mais previsíveis que as pessoas estão procurando nas próprias vidas. Digo, quando elas realmente se dão conta da responsabilidade que elas tem pelos sentimentos que ocupam o centro do universo delas, o corpo delas. Afinal é permitido sonhar, assumir que há experiências imperdíveis, correr atrás delas... As vezes parece que o mundo não quer esconder isso de nós se a gente o questiona de modo mais intenso. Enfim, a quantidade de modos que a gente poderia entender tudo, e nos tornar outra coisa, é algo fascinante. enfim. é isso. até amanhã. seu blog já se tornou parada obrigatória pra mim. beijos!

The Sole Survivor disse...

eu sou vermelha, e de um lado só do rosto.
adivinha quem ficou a tarde toda sentada de lado pro sol?

tô muito vermelha do lado direito do corpo.

Sofia disse...

Oi, anjo!

Acho que você gostará disto: o livro com o poema ‘VIDA: Já perdoei erros quase imperdoáveis’ já está nas livrarias de Portugal em uma edição especial com lindas ilustrações!

Estou deixando o link do vídeo do livro no You Tube para você olhar depois. Está muito bonito!

http://www.youtube.com/watch?v=UmgROzFwzcA

- Beijinhos...