sábado, 5 de junho de 2010

Hell


"A gente tem uma vida... uma vida de babacas. Comemos, dormimos, transamos, saímos. Sempre a mesma coisa se repetindo... Cada dia é uma repetição inconsciente do dia anterior: a gente come uma coisa diferente, a gente dorme melhor, ou pior, transa com uma outra pessoa, vamos à um lugar diferente quando saímos. Mas é igual, sem objetivo, sem interesse. Nós continuamos e nos determinamos objetivos materiais. Poder. Dinheiro. Filhos. A gente perde a cabeça tentando realizá-los. Mas, ou a gente nunca consegue alcança-los e fica frustrada pro resto da vida, ou, quando consegue, percebe que não dá a mínima. Depois a gente morre. E fica com a boca cheia de terra. Quando a gente se dá conta disso, a vontade que dá é de encher logo a boca de terra, para não ficar lutando em vão, para pregar uma peça na fatalidade, para escapar da armadilha. Mas a gente tem medo. Medo do desconhecido. Do pior. Então, quer queira, quer não, a gente fica esperando alguma coisa. Do contrário, já teríamos apertado o gatilho, engolido a caixa de comprimidos, pressionado a lâmina da navalha até o sangue jorrar...
A gente tenta se distrair, fazer a farra, a gente procura o amor, acha que o encontrou e depois vem a queda. De muito alto. A gente tenta brincar com a vida para fingir que a domina. A gente anda rápido demais, andamos à beira do abismo. Cheiramos pó em demasia, beirando a overdose. Isso assusta os nosso pais que veem seus genes de banqueiros, grandes executivos, homens de negócios, se degenerarem a esse ponto, é uma coisa inacreditável pare eles. Tem uns que tentam fazer alguma coisa a respeito, outros desistem. Tem uns que nunca estão presentes, que nunca abrem a boca, mas que assinam o cheque no final do mês. E são detestados pela gente, por tanto e por tão pouco. Darem tanto para que a gente se foda por aí e tão pouco daquilo que realmente importa. De forma que a gente acaba sem saber justamente o que importa. Os limites se perdem. A gente é uma espécie de eletron sem núcelo. Temos um cartão de crédito no lugar do cérebro, um aspirador no lugar do nariz e nada no lugar do coração. Vamos às boates muito mais do que às aulas, temos mais moradias do que amigos de verdade e duzentos números de telefones nos nossos caderninhos para os quais nunca ligamos. Nós somos a Jeunesse Dorée. E a gente não tem o direito de se queixar, porque aparentemente temos de tudo para sermos felizes. E a gente morre lentamente nos nossos apartamentos grandes demais, com sancas no lugar do céu, fartos, entupidos de cocaína e antidepressivos e um sorriso nos lábios..."

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