segunda-feira, 5 de julho de 2010


Você se levanta todos os dias, sem impulso, sem vontade. Você evita todos os espelhos da casa, evita olhar nos próprios olhos, você se envergonha, você abriu mão de todos os seus objetivos, traiu todos os seus sonhos, o mundo te corrompeu. A culpa é sua. O fardo é seu. Você aceita e engole todas as migalhas do destino junto com café amargo pela manhã, você quer vomitar, você não consegue, você leva esse nó na garganta, entalado, nauseante, o dia todo, todos os dias.
Você prometeu que não viveria um dia se quer da sua vida sem amor, você prometeu colocar sentimento em tudo que fizesse e você falhou miseravelmente. Promessas juvenis, você desistiu de tudo, de todos e segue agora vazio pelos cômodos da casa, pelas esquinas da cidade, dentro de si mesmo. Você segue assim sem nome, assim sem endereço, assim sem lugar, todos os dias da sua vida.
Você se senta e espera o movimento da vida, olhos arregalados e incrédulos, você observa a morte de todas as coisas que você acredita, suas verdades caem por terra, uma por uma, você não quer ver o quão real o seu pesadelo se tornou e você fuma cigarros demais, bebe demais, se droga demais, foge demais. Você não tem escolha, você não vê saída, você se quer consegue chorar, você já não consegue se lembrar como era se importar. A pureza se perdeu, você vê seu amor se tornar sujo, infecto, inútil, você se cansa das mentiras, cansa de sofrer, cansa de se dar, cansa de tentar, você entrega os pontos, e desiste, nas pequenas coisas, nas grandes. Você para, você se perde, você sufoca.

E assim você se mata. E assim você é morto. E assim sua vida acaba, todos os dias, lentamente, um minuto de cada vez.

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