sábado, 29 de novembro de 2008

Último dia


Era o último dia...me sentei no quintal da minha velha vida, fiquei admirando o céu, o meu céu de histórias tranquilas, o céu que tanto me fez sonhar em voar. De repente algo tomou conta de mim, invadindo as memórias refugiadas no meu inconsciente tão machucado: lembrei dos amores empoeirados que eu esqueci no portão, dos pensamentos velhos enterrados atrás do pé de laranja, do vestido de fada que mofou no guarda roupa, da inocência que mofou no peito, do que eu fui e não sou mais... Por instantes me senti estranha, a vida tem sido muito corrida para tais sentimentos, quase não reconheci a saudade quando ela chegou... "Última vez que vejo este lugar", pensei, sei que preciso me despedir, engraçado como eu sempre fui embora sem me despedir, incoscientemente partia em fuga, acho que nunca soube dizer adeus direito, mas dessa vez eu precisava, como alguém que nunca chorou e de repente precisasse saber como é chorar, é leve e dolorido, lágrimas... acho que nunca me habituarei a elas... Antes de passar pela porta, cantei uma canção da minha infância e acendi o cigarro incerto de uma vida nova... Sai sem me perguntar se seria melhor agora, intimamente eu sabia a resposta, mas naquele exato momento eu queria pensar que amanhã, longe dos meus mortos, talvez eu pudesse ser mais feliz...

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