quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ano novo


"Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada..."







Seja como for, bom recomeço.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009


"Depois, penso também naquele quase velho poema do John Lennon:
'I don’t believe in yoga
I don’t believe in mantra
I don’t believe in God
I don’t believe in Freud
I don’t believe in drugs
I don’t believe in sex
I don’t believe in Beatles'
e termina com um acorde profundo de guitarra e um 'I just believe in me'.


Mas nem isso."

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009


Sonhos, sonhos, sonhos, milhares de quilômetros de distância e tudo ainda continua vívido.










Tudo parecia exatamente igual, exceto por você, você de repente se materializou num cenário atualmente distante da sua realidade, distante da minha. Palavras, afeto, sorrisos, coisas que não existem mais. Não houvera promessas ou conversas libertadoras, éramos só eu e você, sentados lado a lado, sorriso calmo, alma tranquila, como antes...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Férias


E é pra lá que eu vou.

























As férias e o porre estão agendados para esta noite.
Talvez já seja algum descanso no meio dessa loucura.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


"Penso em você apesar de não sentir sua falta e muito menos sua presença. Penso em você porque sinto um vazio que eu não sei do quê e nem por quê. Revelo, então, mais uma vez, minha estupidez, já que não é você quem vai me salvar e nem muito menos me catapultar pra uma dimensão mais tranquila e menos ansiosa de coisas que não tem nome."

Talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor.


"No fundo eu sabia que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia."

O início


O cavaleiro de asas negras, a espada, posição de defesa, ilusória, o mal enraizado, fundo demais, dessa vez não era um sonho. Eu sei. Consigo ver, desde o dia que você tocou o ponto místico entre os meus olhos. Minha visão modulada, lutando contra o real, enxergo de olhos fechados mas não consigo compreender, por enquanto isso ainda é muito difícil. Vozes dentro da minha cabeça, ouço o chamado, é claro, eu arrumo forças e caminho, mas essa força não é minha, sete. Sete vidas, sete círculos, sete destinos entrelaçados, sete escudos, sete amuletos, sete proteções. Hoje me parece nítido, minha lucidez, minha intuição, algo me guia para uma direção mais justa. Materialismo, simbologia, todos os elementos, o sal purifica, a água conduz, a troca de energias, queima como fogo, arde. Essa dor não é minha. Alívio, corpo fechado, amuleto da sorte, ânsia, ajuda. Renovação. Agora consigo continuar. Já não tenho medo dos sete mitos que habitavam aquele sonho primordial.




"Bem aventurados sejam os nobres de espírito."

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Ser


Eu moro num país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza. Eu sou mistura, pele branca, sangue crioulo, olhos de amêndoa, cabelo enrolado.
Eu acredito em mandinga, anjo da guarda, amuleto da sorte, amor incondicional. Acredito em Deus, acredito na vida.
Não guardo lembranças em caixas de sapatos, mas tenho um coração muito ocupado por coisas que guardei. Sou câncer com ascendente em libra, a astrologia explica a minha emotividade, a minha falta de noção.
Larguei uma vida por egoísmo, voltei por egoísmo, hoje consigo enxergar melhor as minhas falhas.
Gosto de música, literatura, cinema, teatro, arte. Gosto de bar, da embreaguez, da noite. Gosto da liberdade de ser e estar.
Não sou a pessoa mais inteligente que conheço, mas assumi a capacidade de raciocinar e distinguir, não tenho medo dos maravilhosos dez por cento que estão ao meu dispor.
Não quero o melhor emprego do mundo, só quero o meu sustento com dignidade. Eu larguei a faculdade, escolhi viver minha vida longe da burocracia de arquivos e políticas empregatícias. Eu escolhi me dar uma segunda chance, escolhi ser feliz.
Não quero ser loira, não quero ter olhos azuis, não quero silicone e nem formas esculturais. Não quero ser o que eu não nasci pra ser, não sigo padrões ditatoriais da moda, da sociedade, da futilidade. A individualidade e a valorização das diferenças são mais belas ao meu ver.
Sou a única herdeira, mas ganhei irmãos no ritmo em que a vida foi acontecendo, pequenos presentes de Deus.
Já fui fera e já fui ferida, já fui ácida e doce doce. Já me enganei muito, já fui muito enganada, tentei ao máximo não enganar ninguém.
Já amei muito, vezes certo, vezes errado, vezes de verdade, vezes de faz de conta. Já fui muito amada, vezes certo, vezes errado, vezes de verdade, vezes de faz de conta.
Já menti pra deixar alguém ir, já menti pra tentar fazer alguém ficar, já fui sincera para conseguir ir embora em paz. Já fui Vênus, já fui Júpiter. Já fui ódio, mas fui muito mais amor.
Já fui promíscua para curar feridas, já fui fiel pra não trair as minhas crenças. Já perdoei erros injustificáveis, já fui condenada quando inocente, já condenei sem ver as provas, já deixei de lado o que perdeu o sentido.
Já andei descalça na rua, já tomei café na padaria de pijama, já tomei chuva pra me sentir viva. Já me embebedei numa quinta feira nublada porque algo em mim doía, já bebi na praia de madrugada para acompanhar a dor de outro alguém. Já acordei sem saber o que tinha acontecido, já acordei desejando que a noite anterior não tivesse acontecido.
Já viajei pra fugir, já viajei pra me achar, já voltei para lembrar, já fugi para esquecer. Já pensei ter feito tudo, já descobri que ainda não sei nada.
Já cai, já levantei, já agredeci a mim mesma pelo que me tornei e ao mundo pelo que ele não me tornou, por não ter me embrutecido demais.
Sou o que eu vivi, sou o que eu fiz, sou os erros que cometi, sou a ânsia de acertar. Sou. No sentido mais puro e definido da palavra. Sou, como quem é, a cada passo trôpego.
Sou sarcástica e emotiva, consumista e minimalista, capitalista e socialista, individualista e altruísta, sou cinza tristeza e felicidade azul da cor do céu.
Sou o que convir, sou o que vier, sou o que eu quiser, sou o que Deus quiser.



Ouvindo: I'm going slightly - Queen

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Irremediável


"Não é saudade, porque para mim a vida é dinâmica e nunca lamento o que se perdeu - mas é sem dúvida uma sensação muito clara de que a vida escorre talvez rápida demais e, a cada momento, tudo se perde."








E se perdeu...
Ouvindo: Against the wind - Bob Seger

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

À um felino triste


Um dia como qualquer outro, um dia chuvoso que traz consigo a ironia de um arco íris se engraçando bem na frente da minha janela. Achei interessante aquele colorido tão pouco espontâneo, parado, assim meio remoto, sete cores ocupando menos de um milésimo de um céu nublado.
Dias assim são isentos. Dias assim pedem açucares e pijama, nada mais. Sem longas conversas, sem climas sociais, sem considerações finais. Dias assim exigem solidão: quietude, plenitude, a não-dependência-de-outro-ser. Sei que isso tudo soa muito nostálgico para os bichos sentimentais como eu, não discordo, digamos apenas que aceito com serenidade a necessidade de existência dessa solidão auto conhecedora.
Permaneço aqui, sentadinha embaixo das cobertas olhando para o vazio profundo, a tv em estado mudo: fantonches caseiros, faróis de carros invadem a janela e desenham cordeirinhos na parede: fantoches urbanos. Tenho consciência de toda essa movimentação silenciosa, mas as atenções estão voltadas para dentro, para o palco da confusão maior. Os pensamentos me conduzem para um interior obscuro em busca de algum significado até então ignorado, algo que explique, ou pelo menos justifique aquilo que vive a me artomentar. Em vão: 'pra dentro' parece nunca ser fundo o suficiente, é preciso cavar mais e mais e mais.
No meio desse turbilhão de pensamentos desconstruídos ele vem, me assusta, me traz de volta, imensos olhos azuis, imponente, me olha, hesita e em seguida se deita no meu colo mansamente. Do outro lado ela surge e sem qualquer cerimônia adentra o recinto (no cômodo até então de ilusões privativas) a tempo de vê-lo se aconchegando: "Ele anda amuadinho", "O que?", "Ele anda amudadinho".
Acho esse termo bonitinho, amuadinho, essa palavra é carregada de uma tristeza lenta, de uma tristeza pra ser sentida devagar, a-mu-a-di-nho, parece que vai caindo leve sobre o rosto como garoa fina. Apoiei sua cabeça cuidadosamente sobre a palma da minha mão estendida, olhei dentro dos seus grandes olhos azuis: "Parecem portais", "Que? Do que você está falando?", "Dos olhos dele", "Que que tem os olhos dele?", "Parecem portais, cor do céu, bonito", "Um portal que ronrona? Você enlouqueceu de vez".
Nem presto atenção nos gracejos dela, começo a acariciar o felino triste, tristeza muito familiar, continuo a acaricía-lo, ele se levanta, triste triste, parecendo rejeitar aquele excesso de afeto.
Então ele se afasta, senta na janela e fita o horizonte longínquo, ela corre para agarrá-lo no parapeito sem alcançá-lo. Eu o respeito, o deixo só, o entendo. "Deixa ele." Sem questionar ela acata.
E lá ele permanece por horas, imóvel, intocável. Talvez como nós, sejam sós que os gatos procurem as suas explicações.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mimimimi


Cansaço, cansaço, não consegui dormir de novo, as noites tem sido perturbadoras, solitárias, tenho a impressão que me sentia menos só quando estava de fato só.
Aff, ok, eu paro de divagar atoa, típico pensamento medíocre e complexo, deixa, ninguém entende mesmo. Tenho tido um milhão de sonhos que lembro vagamente quando acordo, turbilhões desconexos: vento, poeira, mágoa, cigarros, rostos desfigurados, tudo junto, misturado, um novo cenário, parece que a minha mente se liberta e desenvolve discussões que não aconteceram, que nunca acontecerão (existem barreiras físicas e burocráticas).
Muito cansativo, perco o sono, a pose, a essência. Um dia me disseram que Deus não existe, que Deus é a nossa consciência e blablabla, nem cogito a hipótese de acreditar nisso, odeio minha consciência, ela sofre de altruísmo masoquista, um porre. Em contra partida tem aquele diabinho que mora no meu bolso, vez por outra ele aparece revoltado com a minha falta de amor próprio, tento me focar para não ouví-lo.

É... tenho tentado ser uma pessoa melhor.



...


Tenho a sensação de que vou me arrepender mais tarde.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Querido diário


Uma quarta feira de merda, dia chuvoso, tedioso, todos os osos negativos de uma típica quarta feira de merda. Dormi demais de novo, acordei atrasada, chuva de merda, férias, respirei fundo - preciso de férias -, dez dias, são só dez dias, aguenta firme Fernanda.
Movimentos friamente calculados: não me lembro o que acabei de fazer, nem me lembro de ter feito qualquer coisa. Minha chefe continua falando, gente, essa mulher não cala a boca nunca, cinco minutos, só queria cinco minutos de paz, é pedir muito? Ela bateu o cartão, alívio, até consigo ouvir meus próprios pensamentos, aqui é muito calmo quando esse bando de matracas superintendentes não estão. Finalmente chegou a minha hora. 15 minutos de caminhada, garoa de merda, espera porra, estou chegando. A paulista já está toda decorada, bonito, embora eu odeie natal, muito bonito, queria fazer a turista e tirar fotos, não, muito cafona, só observo, uma amiga me disse uma vez que paisagens a gente não deve fotografar, só levar na memória e blablabla, minha memória é ruim, logo se apaga, mas foto agora seria cafona, então sigo em frente. "Me espera na esquina", ela me grita no ouvido, tá, tá, estou chegando. Continuo me encantando com as luzes.
Cheguei, vamos lá. Que clichê, você sempre com um desconhecido, ao meu ver: carona! Bancos de couro, quando eu crescer definitivamente quero um carro com bancos de couro, me perdoem os ativistas, me perdoem o caralho, cada um com a seu senso-de-moral-e-bons-costumes-tsc, odeio essa coisa politicamente correta que tentam enfiar goela abaixo na gente, me recuso a ser tão hipócrita, eu quero bancos de couro!
Ok, piadas pelo caminho, eu panguo, ela fala pra caramba, ele sorri demais, combinação estranha. Bar, muito chique, caro também, odeio bebida cara, a gente tem que se comportar se não o salário não dá nem pra gorjeta, um saco, aqui tem wyborowas, isso me lembra Caio, nostalgia, ele tinha razão, 20 pilas a dose, eu lá tenho dinheiro pra tomar dose de 20 pilas, só pra começar: que mané dose, adoro a sensação de tomar no gargalo, me chamem de bêbada se quiserem, sou receptiva a esse falso moralismo, tudo pelo bem estar alheio (isso soou muito cruel comigo mesma quando proferido em voz alta).
O garçom veio conversar comigo sobre religião, adoro falar de comportamento comum e indução da massa quando se trata de crenças e religião. Tá, acho que ele não entendeu metade do que eu disse, bem que o Renê disse numa outra noite alcóolica que era para eu parar de falar difícil com garçons, sei lá, mas não acho que eu fale difícil, achei que todo mundo soubesse o que é dúbio, oras. Enfim, ele se assustou comigo e foi embora, já estou numa boa, seis reais num maço de cigarro, caralho, mas a vontade é mais forte, foda-se. Quero ir embora, já não me sinto tão "cheia de vida" (adorei esse termo) para passar a noite vadiando, mas ela me obriga, sempre me obriga, amo essa biscate trambiqueira que só me mete em roubada. Festa no apê, uhuuuu, uhu nada, muito sono, nossa, o sofá mais confortável que eu já vi na minha vida, fico por aqui mesmo, continuem com as badalações. Poltrona vibratória? Onde? Ebaaa, eu quero! Isso me lembrou de um porre que eu tomei numa piscina de bolinhas uma vez, enfim, isso não vem ao caso. Entrei em estado de alternância: cerveja, cigarro, cerveja, cigarro, banheiro, cerveja, cigarro, cerveja, banheiro e assim por diante. Bossa nova, me senti no Leblon das novelas do Manoel Carlos, ouvindo bossa nova em um apartamento de luxo. Putarias para o lado de lá meu bem, fico com os Simpsons, quatro episódios seguidos, overdose, adoro. Hora de ir, espera, são três da manhã, carona? Beleza, vou dormindo, bancos de couro *quase babando*, finalmente em casa.
Lar doce lar. Digo boa noite ao espelho, mas ele fica me olhando e não responde. Tenho a impressão que aquela figura projetada na superfície refletora costumava ser mais educada.
O-k, sem dramas.
Ainda continuo brava com "os métodos" de Deus, portanto, hoje vou dormir sem falar com ele.


Boa noite.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Lembrete

"Oi,

Eu só queria deixar registrado que você me dá nojo, me enche de vergonha, me causa repulsa, chega a dar um dó enorme porque suas metas de vida são tão miseráveis e tão pequenas que eu vejo em você o típico macaco que não quis descer da árvore enquanto todos os outros evoluiam.
Sei lá, parece que você vive na sombra dos outros e enquanto está todo mundo cuidando de sua própria vida, você fica lá lambendo a bunda deles e é deixada pra trás sem nem perceber.
Vê se começa a pensar 'outside the box' e dá um rumo pra essa merda que você chama de vida.

Atenciosamente,
Alguém que não gosta de você.'


Escreveu num bilhetinho e guardou dentro de um bolso da sua blusa preferida. Ainda era verão. Quando chegasse o inverno ela acharia um recado de seu eu-passado e tentaria mudar sua vida.

Ou não."







Ouvindo: Us and them - Pink floyd

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Que?


"Só que, como de hábito, na cabeça (como que separada do mundo, movida por interiores taquicardias, adrenalinas, metabolismos) se passava uma coisa, e naquele ponto em que isso cruzava com o de fora, esse lugar onde habitam os outros, começava a região do incompreensível: Lá, onde qualquer delicadeza premeditada poderia soar estúpida como um seco: não. E soou.

Puro cérebro sem dor perdido nos labirintos daquilo que tinha acabado de acontecer. Dor branca, querendo primeiro compreender, antes de doer. Doeria mais tarde, quem sabe, de maneira insensata e ilusória como doem as perdas para sempre perdidas, e portanto irremediáveis, transformadas em memórias iguais pequenos paraísos-perdidos. Que talvez, pensava agora, nem tivessem sido tão paradisíacos assim.

'Espera, vamos conversar', sugeriu sem muito empenho. Tarde demais, porta fechada. Sozinho enfim, podia remexer em discos e livros para decidir sem nenhuma preocupação de harmonia-com-o-gosto-alheio que sempre preferira um Morrison a Manuel Bandeira. Sid Vicious a Puccini. A mosca a Uma janela para o amor, sempre uma vodca a um copo de leite: metal drástico. Era desses que sempre escolherão o risco, o perigo, a insensatez, a insegurança, o precário, a maldição, a noite — a Fome maiúscula. Não a mesa posta e farta.
(...)

E a vida acontecendo em volta, escrota e nua."



Longe do magnetismo cruel do 'estar-perto', os caminhos fluem.
Nossos âmagos continuam diferentes: Você arranhando superfícies e eu cavando buracos loucamente.
Questão de sintonia.

Sem tristezas companheiro, pede pro mundo girar.